Aos 42, Rossi decide por aposentadoria e encerra história na MotoGP em 2021
Tal qual havia prometido, o italiano de Tavullia voltou das férias com uma decisão. Em uma entrevista coletiva no Red Bull Ring, o multicampeão confirmou que vai pendurar o capacete no final da temporada
Um dos mais famosos capítulos da história da MotoGP vai chegar ao fim em 2021. Aos 42 anos, Valentino Rossi anunciou nesta quinta-feira (5) que optou pela aposentadoria e faz nesta temporada a despedida do Mundial de Motovelocidade após uma laureada trajetória de 25 anos no certame.
Embora impactante, a decisão de Rossi não chega como surpresa. O filho de Graziano Rossi e Stefania Palma insiste a algum tempo que orientaria a trajetória profissional pelos resultados, e o fato é que o desempenho de 2021 não corresponde à expectativa. Nas nove corridas disputadas até aqui, Valentino soma apenas 17 pontos, o que rende a 19ª colocação, à frente apenas do irmão Luca Marini e de Iker Lecuona, Stefan Bradl, Lorenzo Savadori, Michele Pirro, Tito Rabat e Garrett Gerloff.
“Eu decidi parar no fim desta temporada, então, infelizmente, esta será a minha última meia temporada como piloto da MotoGP”, anunciou Rossi. “É difícil. É um momento triste, pois é difícil de dizer e saber que não vou correr de moto no próximo ano”, desabafou.
“Foi ótimo, tive momentos inesquecíveis com os meus times, como todos os caras que trabalharam comigo. Não tenho muito mais a dizer”, comentou.
Rossi, porém, não sai de cena por falta de alternativas. A satélite SRT nunca o descartou de forma categórica, mas, ainda que o fizesse, a VR46 vai debutar na classe rainha em 2022. Como dono da equipe, o sete vezes campeão da divisão principal do Mundial obviamente poderia assumir uma das motos. E é bom ressaltar que o patrocinador o pressionou para que assim fosse. A Ducati, que vai fornecer as motos, também deixou a porta aberta para que fosse o veterano a montar em uma das Desmosedici. Para a casa de Bolonha, seria até uma chance de corrigir a imagem deixada pela parceria frustrada das temporadas 2011 e 2012.
Rossi, porém, já vinha dando indícios de que a aposentadoria se aproximava. Antes da pausa para as férias, Valentino já tinha classificado como improvável uma mudança para a VR46, frisado que sempre se viu como um piloto Yamaha “de coração” e reconhecido que os resultados estavam bastante aquém daquilo que ele esperava.
A bem da verdade, 2020 não foi lá um grande ano. Rossi caiu muito e ainda contraiu Covid-19. Mas a decisão de seguir na MotoGP antecedeu tudo isso, já que foi tomada ainda enquanto a temporada não tinha começado, resultado de um longo adiamento causado pela pandemia do novo coronavírus.
Agora, o ‘The Doctor’ teve a chance de analisar o que ainda pode fazer em pista e, com as mais longas férias em muito tempo, oportunidade o bastante para ponderar o próximo passo.
A decisão pela aposentadoria marca um ponto final em uma das trajetórias mais memoráveis, vitoriosas e marcantes da MotoGP. Com um jeito cativante e por vezes até debochado, Rossi conquistou a torcida com comemorações incomuns e foi um dos grandes responsáveis pela popularização de esporte.
A performance que lhe rendeu o título de Doutor Honoris Causa em Comunicação e Publicidade pela Universidade de Urbino, contudo, não foi a única chave do sucesso. Além da irreverência, Rossi falou na pista. Campeão das 125cc e das 250cc, Valentino chegou à classe rainha, na época ainda chamada de 500cc, em 2000. No primeiro ano, o piloto conquistou o vice e, na temporada seguinte, levou a taça, a última da hoje extinta categoria. O italiano de Tavullia emendou outras duas conquistas seguidas com a Honda, mas, incomodado com a relação que tinha com a montadora japonesa e com aqueles que atribuíam à moto seus triunfos, decidiu encarar um novo capítulo com a Yamaha.
Naquela época, a YZR-M1 não tinha a competência atual, mas Davide Brivio, que hoje comanda a Alpine na Fórmula 1, e Massao Furusawa, que se aposentou em 2010, conseguiram convencê-lo a dar uma oportunidade para a Yamaha. E foi essa mudança que deu a Rossi um status ainda maior.
Depois de vencer com a Honda a última corrida de 2003, Vale venceu a primeira de 2004 com a Yamaha e seguiu para conquistar o título na primeira oportunidade. Rossi tinha provado um ponto, mas seguiu para mais outros três títulos com a marca dos três diapasões.
Depois de assustar a Yamaha com flertes com a Fórmula 1, Rossi não conseguiu impedir a chegada de Jorge Lorenzo, em 2008. Incomodado com a crescente influência do espanhol, optou partir por um novo desafio no fim de 2010: a Ducati.
A marca de Bolonha tinha sido campeã com Casey Stoner em 2007, mas o australiano não só não conseguiu repetir o resultado, como também viu crescer a insatisfação com os rumos do desenvolvimento da moto. Rossi e a leal equipe que o acompanhava acreditaram que o problema era com o #27 e arriscaram um desafio 100% italiano.
Deu tudo errado! Já no primeiro ano, Rossi percebeu que tinha feito a escolha errada e tratou de buscar um caminho de volta para ‘casa’. A reestreia com a Yamaha aconteceu em 2013, ano em que ele conseguiu não só fazer as pazes com o pódio, mas também com a vitória.
Em 2014, com duas vitórias e um total de 13 pódios, Rossi foi vice, mas o ano mais importante foi mesmo 2015, quando brigou pelo título até a última corrida. O desfecho do campeonato, porém, foi marcado por uma polêmica com Marc Márquez, que acabou pavimentando o caminho para a derrota do italiano por Lorenzo por só cinco pontos.
Rossi ainda repetiu o vice em 2016 e voltou a vencer no ano seguinte, mas desde então viu os resultados minguarem mais e mais. Ano passado, também antes do início do campeonato, a marca dos três diapasões anunciou a chegada de Fabio Quartararo para formar dupla com Maverick Viñales e, assim, destinou Rossi para a satélite SRT, contando com apoio integral de fábrica.
Apesar de ter uma moto do ano, Valentino não conseguiu achar performance e fez uma primeira metade de temporada muito aquém daquilo que já mostrou ser capaz. Descontente com a própria atuação, o dono de 89 vitórias na MotoGP decidiu que é hora de partir.
Agora, Valentino tem o restante da temporada para tentar deixar uma imagem melhor na despedida. Mas vai sair de cena como um dos principais nomes da história do esporte e com um legado impactante e memorável. A aposentadoria, contudo, não é um adeus definitivo, já que o italiano seguirá presente no paddock com a VR46 e seus muitos pupilos.
A MotoGP volta à ativa neste fim de semana após cinco semanas de férias. O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do GP da Estíria, décima etapa do Mundial de Motovelocidade 2021.
GP Premio – Juliana Tesser, de São Paulo