CPI convoca ex-mulher de Bolsonaro, mas ainda não sabe o que fazer com ela

Ao aprovar a convocação de Ana Cristina do Valle, ex-mulher de Bolsonaro, a CPI da Covid enfiou pela primeira vez a família do presidente no meio da investigação parlamentar. A comissão não criou um problema apenas para o Planalto, mas para si mesma. Estava entendido que o relator da CPI, Renan Calheiros, entregaria suas conclusões até o dia 24 de setembro, sexta-feira da semana que vem. Ainda que a CPI ouça Ana Cristina nos próximos dias, será impossível transformar a oitiva em investigação produtiva sem um adiamento da apresentação do relatório final. Corre-se o risco de transformar a convocação numa inutilidade a serviço da marquetagem parlamentar.

No papel, a CPI pode funcionar até 9 de novembro. Há material para a abertura da nova linha de investigação. Descobriu-se um vínculo de Ana Cristina, mãe de Jair Renan, o quarto filho de Bolsonaro, com Marconny Faria, um lobista que intermediava negócios da Precisa Medicamentos, empresa de ficha enodoada, com o Ministério da Saúde. Mensagens capturadas no celular do lobista indicam que a ex-mulher de Bolsonaro usou sua influência no Planalto para acomodar dois personagens indicados por Marconny em postos de comando no Instituto Evandro Chagas, no Pará, órgão do Ministério da Saúde.

Mensagens capturadas no celular do lobista indicam que a ex-mulher de Bolsonaro usou sua influência no Planalto para acomodar dois personagens indicados por Marconny em postos de comando no Instituto Evandro Chagas, no Pará, órgão do Ministério da Saúde. Foi graças à investigação de fraudes no instituto paraense que os dados que desvendaram as ligações perigosas do lobista foram parar na CPI. Ironicamente, as informações foram requisitadas à Polícia Federal numa pescaria de requerimentos feita por um ex-defensor do governo na CPI, o senador Ciro Nogueira, hoje chefe da Casa Civil. Não há consenso na cúpula da CPI sobre marcar ou não o depoimento de Ana Cristina.

A ex-mulher de Bolsonaro está envolta numa atmosfera radioativa. Dias atrás, teve os sigilos bancário e fiscal quebrados numa investigação sobre a rachadinnha no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, de quem foi chefe de gabinete. Mudou-se recentemente com Jair Renan para uma mansão brasiliense de custo incompatível com sua renda. E ganha o noticiário como amiga e facilitadora de Marconny Faria, que diz ter sido apresentado a ela por Renanzinho, o Zero Quatro. Marconny teve dificuldades para explicar à CPI como ganha a vida. Sustenta que só mantém contratos com a iniciativa privada. Admitiu ter falado de negócios com uma advogada de Bolsonaro, Karina Kufa.

Mencionou também consultorias a parlamentares, cujos nomes se recusou a revelar. As mensagens do seu celular citam um certo senador desatador de nós. Mas ele não se lembra do nome. Marconny jurou que não é lobista. Falta apenas um crachá. A retórica evasiva e os relacionamentos pegajosos são de lobistas. As orelhas, o focinho e os dentes são de lobo. Mas Marconny pediu CPI para ser visto como uma vovozinha disfarçada.

Por UOl

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