Petrobrás precisa voltar a pensar no Brasil, e não só nos acionistas

Estatal foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo em 2022. Enquanto acionistas enriqueceram, investimentos foram reduzidos e brasileiros pagaram por uma das gasolinas mais caras do mundo

Relatório da empresa britânica Janus Henderson, divulgado nesta quarta-feira (1º) pelo jornal Valor Econômico, revela muito sobre os rumos que a Petrobrás tomou após o golpe de 2016 e ajuda a explicar por que os brasileiros vêm há tempos pagando tão caro pelos combustíveis e gás de cozinha.

Segundo a análise, a estatal brasileira foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo em 2022, com US$ 21,7 bilhões. Ficou atrás apenas da mineradora BHP, da Inglaterra, e à frente de gigantes como Microsoft, Exxon Mobil, Apple e China Construction Bank.

À primeira vista, esse dado pode parecer uma boa notícia. Não é. Significa apenas que, nos últimos anos, desde o governo de Michel Temer, a Petrobrás passou a atender mais os interesses dos acionistas do que os do povo brasileiro.

E quem são os acionistas? Poucas pessoas com dinheiro para comprar as ações da empresa, sendo grande parte delas estrangeira. Ou seja, em vez de cumprir seu papel de ajudar no desenvolvimento do Brasil e de atuar para fornecer combustível mais barato aos brasileiros, a Petrobrás virou fonte de lucro para ricos de outros países.

É por isso que, na terça-feira (28), após saudar a preocupação do governo Lula em reduzir os impactos da reoneração dos combustíveis, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, ressaltou: “Agora é construir na Petrobrás uma política de preços mais justa, acabar com o PPI e rever a indecente distribuição de dividendos da empresa para ela voltar a investir e fazer o Brasil crescer.”

Quando chegou o ano eleitoral de 2022, Bolsonaro percebeu que era preciso baixar o preço dos combustíveis se ele quisesse ter alguma chance de ser reeleito. Porém, em vez de atacar o problema real, ou seja, o PPI, o ex-capitão foi covarde como sempre e preferiu culpar os impostos.

Assim, cortou os tributos federais e, via Congresso, os estaduais. Foi uma péssima solução, pois não resolveu a origem do problema e ainda gerou um rombo no orçamento público, que cabe, agora, ao governo Lula resolver.

O problema dos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, no entanto, só será realmente resolvido quando a Petrobrás parar de praticar o PPI, abrasileirando o preço dos combustíveis como defendeu Lula na campanha, e parar de enviar tantos dividendos para os acionistas. 

Afinal, parte do que hoje os acionistas recebem precisa ser reinvestido na empresa, para que ela volte a tomar as medidas necessárias para garantir combustíveis baratos aos brasileiros, como a construção de mais refinarias, e ajude no desenvolvimento do país. É o que se espera da nova diretoria, que terminará de ser constituída em abril.

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