Entenda por que o etanol é considerado um “combustível do futuro”
O etanol, ou álcool combustível, tem sido produzido no Brasil há mais de um século, desde o fim do século XIX. Os mais experientes podem lembrar que, em 1978, a Fiat lançou o Fiat 147, o primeiro veículo com motor movido exclusivamente a álcool. Já em março de 2003, a Volkswagen do Brasil revolucionou o mercado ao apresentar o primeiro carro flex, o Gol com motor AP 1.6, que podia ser reabastecido tanto com gasolina quanto com etanol, misturados no mesmo tanque.
O Ministério de Minas e Energia aponta que “o etanol combustível é o biocombustível mais largamente utilizado no País. Sua produção e uso proporciona economia significativa de consumo de derivados de petróleo. Desde a década de 1970, com o advento do Proálcool, em 1975, o País foi abastecido com mais de 637 bilhões de litros de etanol (anidro e hidratado), que proporcionaram a substituição de cerca de 2,4 bilhões de barris de petróleo equivalente, com significativa redução da emissão de gases de efeito estufa” (dados de 2022).
A tecnologia flex deu início a um legado. De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), os modelos flex, que podem ser abastecidos tanto com etanol quanto com gasolina, representam 85% da frota de veículos leves circulante no Brasil. Atualmente, a gasolina comum contém 27,5% de etanol anidro em sua composição. A adição desse biocombustível é fundamental para reduzir as emissões poluentes do combustível fóssil e atuar como antidetonante.
O etanol tem uma longa história no Brasil, sendo produzido nacionalmente a partir da cana-de-açúcar e do milho. Na Paraíba, é produzido exclusivamente derivado da cana-de-açúcar por sete empresas associadas ao Sindalcool-PB: Usina Giasa, Destilaria Tabu, Usina D’Pádua, Japungu Agroindustrial, Usina Monte Alegre e Miriri Alimentos e Bioenergia.
Mas por que o etanol, com sua longa tradição no Brasil, ainda é considerado um “combustível do futuro”?
Veja os pontos abaixo:
Redução das Emissões: Estamos vivendo uma era de emergência climática. O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S) mostrou que junho de 2024 foi mais quente globalmente do que qualquer junho anterior no registro de dados, com uma temperatura média do ar na superfície da ERA5 de 16,66 °C, 0,67 °C acima da média de 1991-2020 para junho e 0,14 °C acima da alta anterior definida em junho de 2023.
Os combustíveis fósseis, derivados do petróleo, são os principais responsáveis pelas emissões poluentes que causam o efeito estufa e aumentam a temperatura do planeta. Por isso, combustíveis com baixa pegada de carbono, como o etanol, serão cada vez mais incentivados.
De acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), na comparação com a gasolina, o etanol hidratado, aquele vendido nas bombas dos postos, emite até 90% menos CO2. Além dos benefícios ambientais, rodar com etanol melhora a potência e mantém o motor mais limpo e mais próximo do novo durante todo o ciclo de vida.
Veículos Híbridos Flex: A tecnologia flex-fuel já permite que os veículos utilizem diferentes proporções de etanol e gasolina, oferecendo flexibilidade, eficiência ao consumidor e redução das emissões com o uso do etanol.
Muitas pessoas podem pensar que o carro elétrico é a única solução para a mobilidade de baixo carbono, mas não é bem assim. Para cada região do mundo, uma solução será mais eficiente.
De acordo com o estudo “Trajetórias Tecnológicas mais eficientes para a Descarbonização da Mobilidade”, da LCA e MTEmpo (disponível aqui: https://mbcbrasil.com.br/wp-content/uploads/2024/04/2024_04_10_Relatorio_MBCBrasil_LCA_MTempo-3.pdf), os resultados indicam que o cenário com predominância de veículos híbridos (motor de combustão interno aliado a um motor elétrico), além de propiciar uma redução expressiva das emissões de gases de efeito estufa, tende a impulsionar a economia brasileira e promover a criação de empregos de forma mais dinâmica, em comparação com os demais cenários, pois se preservam os elos da cadeia produtiva e se acrescentam novas tecnologias.
Montadoras como Stellantis, Toyota, Volkswagen já anunciaram investimentos que irão contemplar a produção de modelos híbridos flex no Brasil.
Políticas de Mobilidade Sustentável: Em março de 2024, o projeto de lei “Combustível do Futuro” foi aprovado pela Câmara Federal com uma votação expressiva de 429 votos a favor, 19 contra e três abstenções. Um dos principais destaques deste projeto é a ampliação do uso do etanol para a descarbonização do setor automotivo.
Este projeto pode ser votado a qualquer momento no Senado. Além da expansão do uso de etanol, o projeto contempla outros pontos importantes, como: a ampliação da mistura de biodiesel ao diesel, a produção do combustível sustentável de aviação (SAF – Sustainable Aviation Fuel), o aumento da produção de biometano e a implementação da avaliação do ciclo de vida “poço-a-roda” (em uma primeira etapa) e “berço-ao-túmulo” a partir de 2032.
Em junho deste ano, o programa Mover foi finalmente aprovado na Câmara e segue para sanção presidencial. O projeto cria uma política industrial para a mobilidade sustentável, buscando investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento e a redução das emissões de carbono no país. O programa visa a descarbonização da indústria automotiva nacional, promovendo investimentos em tecnologia para aumentar a competitividade global.
Um dos principais pontos é a promoção do uso de biocombustíveis, combustíveis de baixo teor de carbono e formas alternativas de propulsão, incentivando o uso do etanol como combustível. O Mover também trará requisitos obrigatórios de reciclagem na fabricação dos veículos e de eficiência energética no ciclo do tanque à roda.
Essas políticas juntas posicionam o etanol como um combustível extremamente necessário para o desenvolvimento do setor automotivo.