Ménage à trois: dicas de especialistas para o sexo a três
Originado na França do século 18, o ménage segue despertando interesse ao longo do tempo; confira dicas de especialistas para viver a prática com prazer e segurança
O ménage à trois surgiu na França, no século 18, e a história aponta o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) como o primeiro nome “famoso” a incentivar e aderir à prática. Quase 300 anos depois, o desejo de viver experiências sexuais a três segue como uma das fantasias mais frequentes, inclusive no Brasil, onde 77% dos ouvidos em uma pesquisa apontaram essa prática no topo de sua sua wishlist sexual. A GQ Brasil consultou especialistas para te trazer dicas de um ménage mais prazerosa e seguro.
A sexóloga Camila Gentile, CEO da Exclusiva Sex Shop, de São Paulo, conta que uma pesquisa encomendada por ela à rede social para adultos Sexlog apontou o que ela chama de “uma meta clara: ménage continua sendo a preferência nacional”, garante.
Os números da pesquisa colocam o sexo a três em primeiro lugar na lista de fantasias que os entrevistados pretendem realizar num futuro próximo, com 77% das respostas. O swing (troca de casal) vem em segundo (44%), seguido de perto pelo “sexo em lugares públicos” (43%).
Ménage a trois: um pequeno guia prático
O sucesso da experiência depende exclusivamente dos envolvidos, mas há alguns aspectos que ajudam a se preparar melhor para esse universo.
O primeiro deles é a composição do trio. É importante saber que o ménage pode envolver diferentes combinações de gênero: duas mulheres e um homem, dois homens e uma mulher ou três pessoas do mesmo gênero.
O consentimento mútuo é outro ponto inegociável. É fundamental que todas as partes envolvidas consintam plenamente e estejam confortáveis com a experiência. A comunicação aberta sobre desejos, limites e expectativas é essencial para garantir uma experiência positiva para todos.
Não se iniba na hora de definir limites: antes de participar no ménage à trois, é importante que os envolvidos estabeleçam claramente as regras da interação, assegurando que todos se sintam respeitados e seguros durante a prática.
Atenção também na hora de escolher os parceiros, sejam eles pessoas conhecidas ou não. Independentemente da escolha, é crucial que todos os participantes estejam confortáveis com a presença e participação de um terceiro elemento.
E sempre (sempre) use preservativos.
Ménage à trois sem esquecer a segurança
Para que a experiência flua sem problemas, os interessados devem pensar também nos cuidados com a saúde física e também emocional.
Para Camila Gentile, quando se fala em sexo, o norte é sempre a saúde. “Isso impacta na primeira obrigação que é o autocuidado, a presença obrigatória de preservativos e lubrificantes nesse caso”, alerta. “As ISTS [infecções sexualmente transmissíveis] e DSTS [doenças sexualmente transmissíveis] têm crescido muito e isso se deve à falta de cuidado no uso do preservativo.”
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À essa obrigatoriedade, a neuropsicóloga Ciça Maia, de São Paulo, acrescenta a boa higiene também como fundamental para minimizar os riscos de infecção. “E também é muito importante ter acordos de todos os envolvidos em relação a discutir práticas seguras, onde é discutido se vai haver limites, quais são eles e como interromper um comportamento se um ou outro se sente desconfortável”.
O ménage à trois e a saúde mental
Os cuidados não se restringem apenas à saúde do corpo. Ficar atento à saúde mental também é importante ao consider a prática do sexo a três, já que a experiência pode levar a questões emocionais e psicológicas que nem sempre se consegue controlar.
“Deve haver uma comunicação aberta”, recomenda a Dra. Ciça Maia, também educadora sexual. “É importante discutir sentimentos, expectativas de limites, antes e depois do encontro, como gerenciar o ciúme, que é algo que pode acontecer”.
Segundo a médica, a proposta de relacionamentos abertos, cada vez mais discutidas pela sociedade, se dá justamente para “facilitar o gerenciamento do ciúme”. No entanto, nesse campo de novas possibilidades, as reações podem ser as mais adversas.
“O ciúme pode acabar acontecendo e pode não trazer a harmonia que aquele casal ou trisal busca”, segue a especialista. “Então, é importante ter essa reflexão e revisar a experiência de cada um. Qualquer preocupação emocional pode gerar conflitos futuros nas interações”.
Ménage à trois ou trisal?
Há importantes diferenças. Como explica a especialista Camila Gentile, existem muitas práticas que envolvem mais de duas pessoas. O que muda é até que ponto cada participante é envolvido emocionalmente no “jogo”.
Diante disso, é possível dizer que o foco do ménage está na prática sexual, ao passo que o trisal acontece na perspectiva de um casal incluir uma terceira pessoa na relação.
“O ménage sempre está referido a uma prática sexual. As três pessoas podem ser parceiras ou não, sem necessidade de envolver laços emocionais profundos entre os participantes”, descreve a Dra. Ciça Maia, acrescentando que a prática é geralmente “pontual” e tem como objetivo “apimentar a relação”.
Por outro lado, o trisal representaria uma relação mais estruturada – ou, ao menos, em busca de uma estrutura que extrapole as quatro paredes –, na qual três pessoas se envolvem em um compromisso emocional e, consequentemente, sexual. “Não é ocasional como no ménage”, explica a médica.
Ménage à trois: quem mais pratica
Segundo as especialistas, a literatura contemporânea aponta que práticas como o ménage à trois – assim como outras relações poliamorosas – variam tanto em frequência quanto em contexto, podendo apresentar mudanças também de acordo com o gênero e a orientação sexual dos envolvidos.
Na visão de Camila Gentile, os homens são os que mais se interessam por explorar novas possibilidades e o ménage, em muitos casos, é uma porta de entrada. A sexóloga conta que um dos fetiches mais em alta hoje, no Brasil, é o chamado cuckold, em que o prazer está em ver o parceiro ou parceira realizando alguma atividade sexual com outra pessoa.
Ciça Maia observa que os casais heterossexuais tendem a explorar mais o ménage como uma forma de diversificar a vida sexual, mantendo uma namorada ou frequentando casas de swing. “Essa configuração tem sido uma maneira de alguns pares ressignificarem sua conexão e explorarem novos limites no relacionamento”, explica a sexóloga.
Já entre pessoas homossexuais ou bissexuais, práticas como o ménage ou o poliamor são mais observadas em dinâmicas que valorizam relações abertas. “Mas não há como definir quem pratica mais uma ou outra modalidade, pois essas escolhas estão profundamente ligadas aos valores, desejos e experiências de cada indivíduo ou grupo”, esclarece.
Independentemente da orientação sexual ou da prática escolhida, as especialistas ressaltam o cuidado – com a saúde física, emocional e relacional – como o aspecto mais importante. “A prioridade deve ser sempre o bem-estar de todos os envolvidos, permitindo que essas dinâmicas sejam vivenciadas de forma respeitosa e prazerosa”, conclui a especialista.