EUA mostram que as fake news de Trump e Bolsonaro têm prazo de validade

No fim de janeiro de 2020, o presidente Donald Trump caminhava para a reeleição. Os empregos bombavam nos Estados Unidos da América (EUA). Joe Biden era um azarão meio desacreditado no Partido Democrata. O jovem ex-prefeito Pete Buttigieg e os senadores Bernie Sanders, Amy Klobuchar e Elizabeth Warren pareciam apostas melhores. Ao longo do ano, tudo mudou.

Joe Biden e a vice Kamala Harris, uma escolha acertada e simbólica do Partido Democrata, que volta a governar os EUA

Biden é o presidente eleito dos EUA. Seus opositores no partido viraram cabos eleitorais entusiasmados na luta contra o obscurantismo que ameaçava a democracia americana. Trump é o “loser”, o perdedor, o fracassado tão rejeitado numa cultura que valoriza o sucesso pessoal acima de tudo e todos.

A principal lição política da eleição presidencial americana é que dá para vencer as fake news. É possível derrotar a mentira como arma política. Mas, admitamos, uma pandemia no meio do caminho ajudou. O coronavírus foi o principal fator da derrota de Trump, mas não o único. A maior crise sanitária em um século provocou a perda de milhões de empregos, trouxe consequências econômicas amargas para famílias e empresas, transformou o mundo do trabalho… A Terra está de máscara. Detalhe importante: a pandemia expôs a fragilidade do sistema de saúde nos Estados Unidos.

A maior crise sanitária em um século provocou a perda de milhões de empregos, trouxe consequências econômicas amargas para famílias e empresas, transformou o mundo do trabalho… A Terra está de máscara. Detalhe importante: a pandemia expôs a fragilidade do sistema de saúde nos Estados Unidos. Os americanos costumam achar que tudo deles é o melhor da galáxia. Um bordão recorrente de Trump na campanha era se referir ao país como “a nação mais grandiosa na história do mundo”

Pandemia escancarou despreparo A pandemia de coronavírus deu um susto nos gringos. Já matou mais do que as guerras do Vietnã e da Coreia somadas aos atentados de 11 de Setembro. O país ostenta os maiores números absolutos em casos e mortes por covid-19 no planeta. Os EUA se deram conta de que possuem um sistema de saúde péssimo e caro, que demorou para se organizar a fim de realizar testes e produzir equipamentos médicos. A falta de estratégia nacional, a exemplo da inoperância genocida do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, agravou os efeitos da pandemia e gerou dano político a Trump.

Outro fator de desgaste para o presidente americano foi a mobilização do movimento “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”) depois de George Floyd ter morrido asfixiado quando um policial branco se ajoelhou no pescoço dele por quase 9 minutos em 25 de maio, em Minneapolis, no estado de Minnesota. Milhões de pessoas foram às ruas em manifestações em mais de 2.000 cidades americanas em todos os 50 estados e no distrito de Colúmbia. Foi a maior mobilização popular desde a luta pelos direitos civis nos anos 60 do século passado.

Trump ficou nu As pesquisas mostraram desaprovação da maioria da população às respostas de Trump à pandemia e aos protestos contra o racismo estrutural e a violência policial. As atitudes do presidente mobilizaram o eleitorado negro e geraram maior solidariedade dos brancos, sobretudo jovens, à causa do “Black Lives Matter”. Biden foi o candidato à Casa Branca mais votado na história do país. Recebeu mais de 80 milhões de votos.

A maioria (por margem estreita, diga-se) do país se cansou do presidente racista, incompetente e valentão de rede social. Mulheres conservadoras que rejeitaram Hillary Clinton em 2016 enxergaram o que Trump realmente é. Num país em que o voto não é obrigatório, negros e jovens foram às urnas como se suas vidas dependessem disso. Idosos que o presidente considerava fracos, destinados a morrer, preferiram endossar a pessoa mais velha a ocupar a Casa Branca. Joe Biden assumirá a Presidência aos 78 anos.

O pacotão pandemia, economia em crise, sistema de saúde em xeque e protestos contra o racismo criou as condições para que, em 2020, as fake news fossem derrotadas. Segundo a imprensa americana, Trump contou mais de 20 mil mentiras em quatro anos de governo. Na reta final da campanha, mentiu e apelou ainda mais nas redes sociais. Mesmo assim, perdeu. A vitória de Biden barra a escalada autoritária nos EUA e enfraquece a onda conservadora no planeta.

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