Brasileiro quer retomar a economia em outras bases
É o que aponta a pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2020: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor”, que mostra que 71% dos brasileiros afirmam que gostariam de ver a economia reestruturada para lidar melhor com outros desafios, como desigualdade e mudanças climáticas
Em uma época de tanto negacionismo, aumento de posturas conservadoras e verdadeiros retrocessos, o brasileiro revela-se um indivíduo consciente dos problemas globais e disposto a mudar comportamentos em favor de uma vida melhor em sociedade.
É o que aponta a pesquisa “Vida Saudável e Sustentável 2020: Um Estudo Global de Percepções do Consumidor”, desenvolvida em parceria no Brasil pela consultoria GlobeScan e o Instituto Akatu e lançada nesta sexta-feira, 30 de outubro.
Pelo segundo ano, o estudo faz um mergulho profundo nas percepções dos consumidores brasileiros, a partir dos dados coletados da pesquisa “Healthy and Sustainable Living”, levantamento da GlobeScan realizado em 27 países.
Com esse comparativo, é possível afirmar que 87% dos brasileiros consideram a pobreza extrema um problema sério, índice bem superior à média da global de pessoas preocupadas com esse tema, que é de 57%.
As questões ambientais também são muito relevantes: esgotamento de recursos naturais é sério para 82% dos brasileiros (60% na média dos 27 países pesquisados) e escassez de água doce é preocupante para 81% (ante 52% na média dos países).
Claro que a propagação de doenças (com 81%) e o coronavírus (com 80%) são problemas tão preocupantes quanto. Nesse mundo de crises simultâneas, 66% dos brasileiros disseram-se pessoalmente muito afetados pelo coronavírus, 52% assumiram terem sido pessoalmente muito afetados pela crise econômica e 40% consideram-se muito afetados pela crise climática.
O que nos leva ao dado mais impressionante e animador da pesquisa: quando perguntados sobre prioridades pós-pandemia, 71% dos brasileiros afirmam que gostariam de ver a economia reestruturada para lidar melhor com outros desafios, como desigualdade e mudanças climáticas.
E somente 29% dizem que a prioridade seria recuperar a economia o mais rápido possível. Esse desejo de aproveitar a crise para promover uma transformação é ainda mais intenso entre as mulheres e os mais jovens, chegando a 84% na Geração Z.
A pesquisa ainda revela que o Brasil é o país que mais acredita que devem ser considerados outros fatores, como saúde, desenvolvimento social e meio ambiente, na medição do progresso nacional, para além do desenvolvimento econômico.
O Brasil é o país que mais acredita que devem ser considerados outros fatores, como saúde, desenvolvimento social e meio ambiente, na medição do progresso nacional
Um aspecto positivo quando se pensa no alcance e nas possibilidades do desenvolvimento sustentável”. A média dos 27 países é de 72% de apoio a essa afirmação, enquanto no Brasil o índice sobe para 85%. Temos aqui indícios muito importantes do que pode orientar os próximos ciclos eleitorais.
É sabido que os brasileiros costumam demonstrar muita intensão e pouca ação. Sobre as atitudes individuais adotadas para fazer frente aos problemas econômico, social, ambiental e político do seu interesse, 56% dos brasileiros dizem ter mudado opções de compra e 54% afirmaram ter expressado sua opinião online.
Já 44% dizem ter recompensado as empresas socialmente responsáveis comprando seus produtos ou falando positivamente. Esse número revela-se bastante consistente, pois praticamente repete o índice do ano passado, de 41%.
Se já é bom saber que 4 entre 10 consumidores recompensam empresas responsáveis, melhor ainda é ver que outros 34% já consideraram fazer e que, portanto, apenas 25% dos consumidores brasileiros (1 em 4) mostram-se desconectado das atitudes socialmente e ambientalmente responsáveis das marcas.
Naturalmente, a própria crise econômica limita a capacidade do brasileiro de ter uma postura mais ativista como consumidor. Entretanto, os sinais seguem apontando para um constante amadurecimento.
A pesquisa da GlobeScan e do Instituto Akatu traz uma significativa novidade: indica que os desafios postos por 2020, que evidenciaram o encadeamento de problemas econômicos, sociais, ambientais e de governança (políticos), podem ter despertado um outro nível de percepção entre os brasileiros, mais amplo e mais integrado. Uma bela porta de entrada para uma visão mais sistêmica e menos casuística da realidade.
* Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
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